segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Um dia carnavalesco

Foi em um dia de Carnaval. Feriado. Sem programas para fazer, decidi dormir até mais tarde. Porém não foi o que aconteceu. Mal completadas minhas tão necessárias 8 horas de sono, fui acordado com um banho de mangueira por um estranho ser desconhecido que tinha uma mancha verde na camisa. Atordoado por seus gritos de "vai, vai", levantei-me correndo e o expulsei porta a fora, sem nem questioná-lo por sua inimaginável entrada em meu lar. Só queria paz.
Não conseguindo mais dormir após o susto, decidi tentar tocar um pouco de piano para relaxar. Porém a música me parecia um tanto quanto diferente. Foi quando percebi que a estava tocando em tom maior, e não menor.
Irritado, achei que seria mais válido dar uma volta com meus amigos. Peguei o telefone e liguei para o Leandro (de Itaquera), para o Imperador (do Ipiranga) e pra sua namorada que carinhosamente apelidamos de Imperatriz, que era Leopoldinense. Juntos, nós quatro, com toda nossa mocidade alegre, pegamos o metrô rumo ao Tucuruvi.
No caminho, ao olhar despretensiosamente pela janela, avisto um beija-flor fugindo de uma águia de ouro. Pensei comigo "sorte dele, antes uma águia do que vários gaviões".
Chegando no destino, decidimos visitar o famoso Império de um conhecido nosso - o Casa Verde - que infelizmente estava no Rio de Janeiro - grande Rio! - resolvendo umas questões relativas aos arquipélagos que possuía (aparentemente, ele estava preocupado com a união da ilha). Já que sua casa estava vazia, passamos por pela pequena porta (alguém do grupo até fez uma piada, chamando aquilo de portela) que dava para um imenso jardim de rosas de ouro em sua propriedade. Havia também, perto da entrada da casa, um belo salgueiro.
Ali fizemos uma pequena festa particular até nos cansarmos e voltarmos para as nossas respectivas casas. Exausto, querendo apenas relaxar, dormir e sonhar, entrei no meu quarto e capotei na cama. Com a cabeça no travesseiro, senti algo me incomodando. Uma espécie de relevo me impedia o sono. Foi quando percebi que deitava em cima de uma pérola negra. O dia não podia ter acabado de modo diferente.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Prazeres cotidianos subestimados

Sentar em uma poltrona confortável, na sala de uma casa completamente vazia, em um dia relativamente frio (não aquele que te obriga a tirar do armário a sua mais grossa jaqueta, mas o suficiente para que alguém te lembre de levar um blusão por precaução caso saia para passear ao ar livre), e tomar uma consideravelmente generosa caneca de cappuccino quente ao som de um melancólico gemido de sax executando alguma obra clássica do jazz.

Sair para uma caminhada no início do dia, quando o Sol ainda não disfarça a timidez no horizonte e uma garoa insignificante apenas deixa o ar úmido, com as mãos no bolso da jaqueta, fones de ouvido reproduzindo sua música favorita, com passos curtos sem direção ou pressa e respirar significa gelar o peito e soltar fumaça pela boca.

Em casa, de pijama, e você sai na varanda do apartamento, décimo segundo andar, com braços cruzados se apoia na grade, uma perna sustentando o corpo e a outra tocando o chão apenas pelas unhas do pé, observando os pedestres, carros, casas, vizinhos que começam o dia, outros terminando, sons, luzes e a sensação de que, de fato, cada dia é diferente do outro.

Viagem longa em um trem velho e vazio, o último antes de fecharem as estações, as pernas esticadas nos bancos, um cotovelo encostado na janela para a mão fechada segurar a cabeça e um livro que lhe prende tanto a atenção que aquelas duas horas de trajeto passam em quinze minutos imaginários.

Abraçar alguém, sentido que a temperatura do outro corpo difere da sua, o cheiro do shampoo nos cabelos que agora se esfregam no seu nariz, ambos apertando tanto os braços que caso seus corpos fossem menos consistentes, fundí-los-iam.

Olhar para um bebê sentado em sua cadeira e, assim que os seus olhos encontram o dele, ele sorri e, não importando a distância, você ouve aquela profunda risada sincera e seu minúsculo corpinho se agitando de alegria e - vá saber porquê - você também acha graça.

Passar o dia andando, correndo, pulando, forçando os músculos até o limite da dor e cansaço e, chegando em casa, simplesmente deitar na cama, deixando o corpo se acostumar com a posição, sentindo o relaxamento muscular, a falta de exigência física, a energia carregada pouco a pouco em seu organismo.

Mesa de bar com amigos, verão, bebida gelada, petiscos levemente apimentados e as histórias mais engraçadas que voce já ouviu.

Starbucks.

Cinema.

Ir a um parque bem cuidado em um dia que o céu está completamente azul, roupas refrescantes, deitar na grama verde e conversar. E conversar. E repetir o verbo até a necessidade de uma água de côco ou um picolé de frutas chegar. E deitar novamente. E talvez brincar de comparar formas de nuvens com animais, objetos ou coisa parecida.

Encontrar fotos, cartas, bilhetes, lembranças de alguma época passada que você pensou ter perdido.

Ler ou ouvir uma frase muito boa, daquelas que você usa sempre que puder pelo resto de sua vida.

Achar dinheiro no chão ou no bolso de alguma calça.

Tomar um copo grande inteiro de milk-shake de ovomaltine do Bob's e, ao terminar, ficar mordendo e brincando com o canudo.

Receber mensagens de celular de uma pessoa que você gosta.

Escrever textos para se distrair.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Maybe ...

"do amor amuleto o que eu fiz?
deixei por aí...
descuidei, dele quase larguei
quis deixar cair"

Ao contrário do que Rodrigo Amarante escreveria a seguir em Paquetá (música do disco "4' da banda Los Hermanos), eu deixei, não peguei no ar, e hoje sou, sim, pá-furada.
Uma lição que, se eu pudesse, deixaria para a posteridade, é a de que em relação a algumas coisas você simplesmente não pode "pagar pra ver" e arriscar sair no prejuízo, como é o caso do amor.
Palavra já batida de quatro letras que todo mundo alguma vez usou, xingou, gostou, priorizou ou escreveu mas raramente entendida como algo que é "tudo que precisamos", conforme cantou um daqueles garotos de Liverpool que entrou no mundo com uma guitarra na mão, um sonho na cabeça, poucas moedas do bolso e acabou saindo dele com um tiro no peito e o nome na história.

O que eu quero dizer é que deveríamos dar mais valor às brigas, decepções, monotonias em noites de final-de-semana sem nada para fazer ou falar, consensos forçados e aos sacrifícios gerais. Não vou citar todas as coisas boas. Não pela pouca importância que têm. De modo algum. Sou o primeiro a defender desde os detalhes especiais e únicos que nos fazem lembrar de determinada pessoa nas cenas de um filme genérico de sessão vespertina na TV aberta quanto às imensas e apelativas declarações amorosas jogadas de um helicóptero acima do mar ou sobre altos edifícios de lotadas megalópoles para que todos saibam do fato consumado por duas pessoas que prometem agora passar o resto da vida na alegria e na tristeza. Mas como muito otimismo já foi escrito, não quis causar inveja nas chateações características diárias de cada indivíduo, verdadeiras responsáveis, na minha humilde, jovem e ainda prepotentemente ignorante opinião de obscuro escritor aspirante a filósofo amador de uma vida sem respostas prontas ou caminhos certos, pela diferenciação básica entre àquela ridicula e falsamente perfeita personagem hollywoodiana previsivelmente encaixada no atraente produto "felizes para sempre" e a sua parceria nas tristes noites frias e preocupadas rumo às apaixonadas incertezas futuras de qualquer relação saudável.

O grande problema central é quando toda esta teoria maluca sem pé nem cabeça é criada depois de confirmado o fato. Quando só após a perda você dá valor ao que já tinha ganho. E aí você quer voltar atrás. Quer contar. Convencer. Acreditar. E não consegue.
Não consegue porque tempo demais passou. Não pra você, que agora busca incessantemente um modo de redimir o tempo perdido, mas para a outra pessoa, que ficou tempo demais na estação esperando o trem e percebeu que o seu modo de transporte não é o único capaz de levá-la ao seu caseiro destino de felicidade.
Não consegue porque quando a palavra escapa à língua, o máximo que você faz é abrir suavemente a boca sem emitir som algum. É o silêncio comprovando o erro, distinguindo os gagos de nascença dos de covardia.
Não consegue porque a pá usada para enterrar o casal foi a mesma que cavou o abismo que os separa da ressurreição.
Não consegue por medo da rejeição, do fracasso, do medo da comparação com o hiato entre "estarem juntos" e "juntos novamente".
E por fim, não consegue porque, por mais que a faca da realidade lhe cause espasmos de revolta e dor a cada golpe, e sua pesada nuca arrastada de culpa e ingratidão não tire proveito de um bom e cheiroso travesseiro delicadamente arrumado em um fantástico colchão de espuma, você é obrigado a admitir que a sua ausência foi o melhor para o outro lado. Que a pessoa nunca esteve tão feliz e nunca aproveitou tanto os magníficos momentos que o curto trajeto de nossa cruel e estúpida existência proporciona. Que a sua frequente companhia não lhe serviria mais do que uma bola de aço amarrada em suas frágeis e lindas pernas quentes. Que o jogo inverteu e a decisão de colocar ou não algo a perder não cabe mais a você. E que palavras futuras jamais apagarão fatos passados.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Quando tudo era mais fácil ...

Não vou dizer que minha vida é muito difícil. De fato eu deveria mais é me ajoelhar, com os braços levantados em direção aos céus que me doam Sol, nuvens e raras estrelas cadentes, e agradecer com força e sinceridade àquele que uma vez me disseram ser credor de meus moldes, tanto em imagem quanto em semelhança. Mas ainda assim houve um tempo nada distante onde tudo era muito mais simples. Não necessariamente mais fácil, já que este conceito é muito atrelado às realidades individuais do ser humano e suas limitações, mas com certeza com menos preocupações.

Uma época onde a maior dor de cabeça era não dormir demais e perder o horário de entrada na aula. Ficar acordado até as cinco da manhã comendo frutas, doces e lanches em frente ao computador, ouvindo a sua banda favorita em seus fones de ouvidos baratos, encostado no travesseiro que complementava sua confortável cadeira (isso quando não estava frio e você pegava aquele seu edredon aconchegante e se transformava em uma pequena múmia vermelha de lã, encasulada em si mesma neste Egito de egoísmo que a rotina de bon-vivant lhe proporciona), jogando conversa fora em janelas de MSN, páginas de orkut e fóruns variados. Horas no telefone pago por alguém que não era você, e substituído eventualmente por mensagens de texto compridas que nem sempre traziam um conteúdo necessário para justificar o gasto daqueles cinquenta centavos que não eram seus. Cinemas, parques, ruas, exposições e todo tempo do mundo para matar fora de casa, tudo naturalmente entendido por quem se estrangulava doze horas por dia em trabalhos massantes para que você simplesmente não quisesse passar o pouco tempo livre que lhes restavam em sua companhia, contando os fatos dos seus dias, sonhos e histórias até então desconhecidas; e ainda não descontavam do seu débito emocional toda sua grosseria injustificável nos cinco minutos diários juntos, tudo porque você queria sair justamente os mesmos cinco minutos mais cedo, para passar mais cinco minutos longe fazendo cinco minutos a mais de qualquer outra coisa. Casquinhas mistas do McDonald's, na praça de alimentação de um shopping center, rindo dos frequentadores locais, em uma quarta-feira à tarde, enquanto não chegava a hora do filme cujo ingresso era mais barato naquele dia, e por causa disso vocês chegaram mais cedo que o normal para garantir um lugar na sala escura; permanecer mudo e beijando pelas únicas e máximas duas horas na qual deveria assistir ao longa-metragem e, por ter entrado na fila antes e ter dinheiro, provavelmente tirou o direito daquele cinéfilo que se atrasou por ficar preso no trabalho a assistir a produção cinematográfica naquele mesmo momento. Sentar no sofá e olhar para o teto. Uma camiseta nova bem legal para a festa do final de semana. O próximo churrasco, bares e rodas de violão noturnas com uma garrafa de vinho vagabundo ao centro. Abraços demorados cheios de choramingos distribuídos como provas de amizades no fundo desnecessários para aqueles que reconheciam a veracidade daquilo tudo, mas padronizados pela banalização dos gestos bonitos nas relações superficiais que sempre confundem "olá, tudo bem?" com "eu te amo", toda a encenação tornou-se essencial.

Não havia ainda formaturas, salários, planos, dependentes, taxas e jornais. Adulto era somente aqueles que criavam obstáculos para a diversão, e não a imagem refletida pelo espelho ao sair do banho e se arrumar para a próxima entrevista de emprego.

E agora é o futuro. Dinheiro e futuro. E relacionamentos sérios que acabam paradoxalmente pela falta de seriedade.
Pra mim a vida é um varal. Os problemas-lençóis-brancos-limpos esperam o calor ambiente da paciência/experiência para secá-los enquanto, molhados, apenas fazem peso sobre nós. Uma hora ou outra a corda perde o jogo contra a gravidade. Basta saber quantos estão dispostos a fazer a força necessária para segurar o lado que arrebentou.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

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Imagens recentes. Cotidiano. Mediocridade. Análise. Revolta.

Cobradores de ônibus ex-punks infelizes com a atual realidade, consequente do descaso com o futuro próximo e prioridade excessiva para guitarras distorcidas, botas sujas, camisetas rasgadas e teorias conspiratórias/anarquistas.
Topetes tingidos, oratórias precárias que desvalorizam a imensidão da língua materna, marcas de surf e músculos doentemente fortificados expostos para esconder a deterioração mental.
Saias, shorts, pernas, cores, pop art, iPods, Zíbia Gasparetto, cabelo chanel e ombros.
Óculos escuros, frutas nos lábios semi-abertos, sorrisos, malícia, duplo sentido, ângulos fotográficos tendenciosos e niveis culturais irrelevantes. Comparações absurdas.
Estradas, aviões, computadores, cds e tensão.
Um casal e uma menina de aproximadamente três anos que se divertia como nunca em um show de rock alternativo em um sábado à tarde no Centro Cultural da Cidade de São Paulo.
Grupos musicais florescentes, encobrindo a música padrão-melada-nada-original com combinações de um vestuário que mais parecem uma caixa de 24 cores de lápis aquarela da Faber Castell, além dos bicos, poses e mãos para muito romance descartável e pouco conteúdo verdadeiro.

Falta cultura. Falta interesse. Procura.
Muito contentamento para pouca constestação.
Faltam diferencial, letras, harmonia. Falta pensar. Trabalhar. Querer evoluir.
Sobra virtuosismo.
Encadeamento básico de acordes. Sequências idênticas usadas em discografias inteiras.
Sobram mesmices e rimas com verbos no infinitivo.

A cultura nivelada pelos dez mais lidos na revista Veja.
Tesouros esquecidos. Renegados. Exóticos demais para quem deseja pensar de menos.

Entristece não poder respeitar muitas das opiniões.

O alternativo é proporcional à preguiça mental humana.