Dissertar sobre assuntos já desenvolvidos exaustivamente por diversas outras pessoas não é agradável à ninguém, mas arrisco-me nessa minha aventura literária pateticamente anônima de um frenesi sincero a qual chamo de meu blog mais uma vez para jogar mais sal à velha carne mastigada dos famosos e tão importantes "detalhes".
Essas minúsculas (quase imperceptíveis) nuances que compõem o nosso dia-a-dia de fato têm enorme significado - muito além de títulos de músicas românticas de um Roberto Carlos qualquer ou pregações morais decorrentes de relacionamentos amorosos frustrados. Ainda assim acredito que, apesar unanimidade da questão no imaginário popular, pouco vemos desse conceito como fixado.
Estradas inteiras são percorridas por casais que, só na linha de chegada, no derradeiro momento onde as frases jocosas, as promessas, as indagações, as explicações nunca concluídas e toda sustentação de um tratado baseado no vazio são postos à prova e derrotados, explicitando a falta de tudo onde nada houve, perdendo a chance de encontrar um caminho verdadeiro onde as tradicionais "pequenas ações" transitam do maldito já banalizado clichê para a glória divina da real credibilidade.
Nessas últimas semanas tive a grande sorte de encontrar esse rumo. Venho experimentando velhas sensações que agora soam como inéditas.
Nunca me foi tão válido um despretensioso cochilo preguiçoso após um almoço familiar na tarde de domingo, abraçado e coberto em cama quente, sentindo a calma respiração daquela pessoa especial ao lado, a delicadeza do sono, um baixo e angelical gemido de relaxamento sucedido por um sorriso de satisfação por simplesmente descansar o corpo cansado e cheio.
Confesso que não tenho histórias inesquecíveis de imensas aventuras delirantes e invejáveis para contar. Há poucos "aquele dia lá" para mim. E não por escassez de acontecimentos interessantes, mas porque na minha humilde opinião o que tornam pessoas sensacionalmente incríveis jamais serão momentos pontuais jogados à história, truques da memória com começo e fim, mas o regozijo das miudezas rotineiras.
Não que não haja qualquer necessidade de fatos engraçados, dias eternamente registrados e, enfim, prazeres em situações particulares nas vidas de cada um. Pelo contrário, tenho total conhecimento de sua devida importância para o desenvolvimento sadio de qualquer relação duradoura. Minha conjectura baseia-se apenas em afirmar que, em verdade, é no modo de encarar o cotidiano e as vicissitudes de uma monotonia inevitável para alguns que está o segredo de tudo: do bom-dia carinhoso ao acordar, precedido por um beijo na cálida nuca descoberta de um corpo ainda sonolento, da alta discussão sobre qual será a janta - pizza ou comida chinesa, das brincadeiras e trocadilhos quase infantis feitos com nomes de estações no transporte público, das ligações telefônicas após um longo dia de trabalho apenas para saber como foi o dia do outro, dos remédios e cafunés dados e recebidos durante uma avassaladora gripe qualquer, dos churros (sempre com recheio de doce de leite e cobertura de granulado), às brigas, cócegas na cama, beijos longos ou curtos, chuvas embaixo da mesma proteção, táxis noturnos, corridas por um ônibus, origamis inesperados, apostas comprometedoras, passeios culturais, shows, ensaios, chocolates quentes de meio litro da Starbucks, alfajores orgásticos de um quiosque da Havanna, compras de supermercado ou desenhos animados assistidos na televisão, sentados no sofá comendo chocolate e rindo um do outro por rirem da mesma coisa.
Mais do que um slogan empresarial abusando da retórica para fidelização de clientes, na vida, detalhes fazem, sim, toda a diferença. Considerando a atualidade, sinto-me léguas mais feliz em cada milimétrica atitude.