terça-feira, 13 de abril de 2010

Palavras sobre poucos minutos

Manhã de um dia de semana comum. Um céu despretensiosa e uniformemente cinza europeu coadjuva a paisagem exposta diante de meus olhos, eclipsado pelas barras metálicas da janela de um quarto, agora frias devido ao clima invernoso, outlier entre todos os dias de todos os meses de todos os outonos desde todo o sempre.
Deitado naquela cama - que se não for a melhor do mundo, com certeza merece menção honrosa - como recheio entre cobertores e colchão, me recuso a aceitar a doce claridade que anuncia o começo da empreitada diária e decreta o fim do descanso preguiçoso que todo homem acredita merecer por no mínimo uma vez durante sua existência.

Meus pensamentos ainda horizontais se levantam e a saúdam quando passa entre os umbrais de madeira que dão acesso ao quarto.
Ela que até agora se banhava em água quente enquanto eu me irrita com luz, clima e tempo, atrai pra si toda minha tímida atenção sonolenta sem nem ao menos precisar querer tal mérito natural.
Admiro seu corpo ao colocar a roupa e analiso cada detalhe como se a pele, o cabelo, o rosto, as pernas, braços e todo o resto fossem milimetricamente desenhados com pincel de Marta por algum genial artista renascentista altamente inspirado no melhor dia de sua vida.

Ela dá um sorriso e pula em cima de mim para desnecessariamente me desejar um bom dia, já que esta simples ação já o tornou realmente ótimo. Retribuo singelamente, mas com milhões de frases secretas escondidas na ponta da língua, espetando meu cérebro com a vontade da profissão no mesmo sentimento crônico do pé suicida ao pisar no vazio sabendo que seu par já se encontra no limite do abismo. A iminência do desconhecido me dá apenas a certeza de não saber o que está acontecendo, e ainda assim adorar.