sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Maybe ...

"do amor amuleto o que eu fiz?
deixei por aí...
descuidei, dele quase larguei
quis deixar cair"

Ao contrário do que Rodrigo Amarante escreveria a seguir em Paquetá (música do disco "4' da banda Los Hermanos), eu deixei, não peguei no ar, e hoje sou, sim, pá-furada.
Uma lição que, se eu pudesse, deixaria para a posteridade, é a de que em relação a algumas coisas você simplesmente não pode "pagar pra ver" e arriscar sair no prejuízo, como é o caso do amor.
Palavra já batida de quatro letras que todo mundo alguma vez usou, xingou, gostou, priorizou ou escreveu mas raramente entendida como algo que é "tudo que precisamos", conforme cantou um daqueles garotos de Liverpool que entrou no mundo com uma guitarra na mão, um sonho na cabeça, poucas moedas do bolso e acabou saindo dele com um tiro no peito e o nome na história.

O que eu quero dizer é que deveríamos dar mais valor às brigas, decepções, monotonias em noites de final-de-semana sem nada para fazer ou falar, consensos forçados e aos sacrifícios gerais. Não vou citar todas as coisas boas. Não pela pouca importância que têm. De modo algum. Sou o primeiro a defender desde os detalhes especiais e únicos que nos fazem lembrar de determinada pessoa nas cenas de um filme genérico de sessão vespertina na TV aberta quanto às imensas e apelativas declarações amorosas jogadas de um helicóptero acima do mar ou sobre altos edifícios de lotadas megalópoles para que todos saibam do fato consumado por duas pessoas que prometem agora passar o resto da vida na alegria e na tristeza. Mas como muito otimismo já foi escrito, não quis causar inveja nas chateações características diárias de cada indivíduo, verdadeiras responsáveis, na minha humilde, jovem e ainda prepotentemente ignorante opinião de obscuro escritor aspirante a filósofo amador de uma vida sem respostas prontas ou caminhos certos, pela diferenciação básica entre àquela ridicula e falsamente perfeita personagem hollywoodiana previsivelmente encaixada no atraente produto "felizes para sempre" e a sua parceria nas tristes noites frias e preocupadas rumo às apaixonadas incertezas futuras de qualquer relação saudável.

O grande problema central é quando toda esta teoria maluca sem pé nem cabeça é criada depois de confirmado o fato. Quando só após a perda você dá valor ao que já tinha ganho. E aí você quer voltar atrás. Quer contar. Convencer. Acreditar. E não consegue.
Não consegue porque tempo demais passou. Não pra você, que agora busca incessantemente um modo de redimir o tempo perdido, mas para a outra pessoa, que ficou tempo demais na estação esperando o trem e percebeu que o seu modo de transporte não é o único capaz de levá-la ao seu caseiro destino de felicidade.
Não consegue porque quando a palavra escapa à língua, o máximo que você faz é abrir suavemente a boca sem emitir som algum. É o silêncio comprovando o erro, distinguindo os gagos de nascença dos de covardia.
Não consegue porque a pá usada para enterrar o casal foi a mesma que cavou o abismo que os separa da ressurreição.
Não consegue por medo da rejeição, do fracasso, do medo da comparação com o hiato entre "estarem juntos" e "juntos novamente".
E por fim, não consegue porque, por mais que a faca da realidade lhe cause espasmos de revolta e dor a cada golpe, e sua pesada nuca arrastada de culpa e ingratidão não tire proveito de um bom e cheiroso travesseiro delicadamente arrumado em um fantástico colchão de espuma, você é obrigado a admitir que a sua ausência foi o melhor para o outro lado. Que a pessoa nunca esteve tão feliz e nunca aproveitou tanto os magníficos momentos que o curto trajeto de nossa cruel e estúpida existência proporciona. Que a sua frequente companhia não lhe serviria mais do que uma bola de aço amarrada em suas frágeis e lindas pernas quentes. Que o jogo inverteu e a decisão de colocar ou não algo a perder não cabe mais a você. E que palavras futuras jamais apagarão fatos passados.