quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Quando tudo era mais fácil ...

Não vou dizer que minha vida é muito difícil. De fato eu deveria mais é me ajoelhar, com os braços levantados em direção aos céus que me doam Sol, nuvens e raras estrelas cadentes, e agradecer com força e sinceridade àquele que uma vez me disseram ser credor de meus moldes, tanto em imagem quanto em semelhança. Mas ainda assim houve um tempo nada distante onde tudo era muito mais simples. Não necessariamente mais fácil, já que este conceito é muito atrelado às realidades individuais do ser humano e suas limitações, mas com certeza com menos preocupações.

Uma época onde a maior dor de cabeça era não dormir demais e perder o horário de entrada na aula. Ficar acordado até as cinco da manhã comendo frutas, doces e lanches em frente ao computador, ouvindo a sua banda favorita em seus fones de ouvidos baratos, encostado no travesseiro que complementava sua confortável cadeira (isso quando não estava frio e você pegava aquele seu edredon aconchegante e se transformava em uma pequena múmia vermelha de lã, encasulada em si mesma neste Egito de egoísmo que a rotina de bon-vivant lhe proporciona), jogando conversa fora em janelas de MSN, páginas de orkut e fóruns variados. Horas no telefone pago por alguém que não era você, e substituído eventualmente por mensagens de texto compridas que nem sempre traziam um conteúdo necessário para justificar o gasto daqueles cinquenta centavos que não eram seus. Cinemas, parques, ruas, exposições e todo tempo do mundo para matar fora de casa, tudo naturalmente entendido por quem se estrangulava doze horas por dia em trabalhos massantes para que você simplesmente não quisesse passar o pouco tempo livre que lhes restavam em sua companhia, contando os fatos dos seus dias, sonhos e histórias até então desconhecidas; e ainda não descontavam do seu débito emocional toda sua grosseria injustificável nos cinco minutos diários juntos, tudo porque você queria sair justamente os mesmos cinco minutos mais cedo, para passar mais cinco minutos longe fazendo cinco minutos a mais de qualquer outra coisa. Casquinhas mistas do McDonald's, na praça de alimentação de um shopping center, rindo dos frequentadores locais, em uma quarta-feira à tarde, enquanto não chegava a hora do filme cujo ingresso era mais barato naquele dia, e por causa disso vocês chegaram mais cedo que o normal para garantir um lugar na sala escura; permanecer mudo e beijando pelas únicas e máximas duas horas na qual deveria assistir ao longa-metragem e, por ter entrado na fila antes e ter dinheiro, provavelmente tirou o direito daquele cinéfilo que se atrasou por ficar preso no trabalho a assistir a produção cinematográfica naquele mesmo momento. Sentar no sofá e olhar para o teto. Uma camiseta nova bem legal para a festa do final de semana. O próximo churrasco, bares e rodas de violão noturnas com uma garrafa de vinho vagabundo ao centro. Abraços demorados cheios de choramingos distribuídos como provas de amizades no fundo desnecessários para aqueles que reconheciam a veracidade daquilo tudo, mas padronizados pela banalização dos gestos bonitos nas relações superficiais que sempre confundem "olá, tudo bem?" com "eu te amo", toda a encenação tornou-se essencial.

Não havia ainda formaturas, salários, planos, dependentes, taxas e jornais. Adulto era somente aqueles que criavam obstáculos para a diversão, e não a imagem refletida pelo espelho ao sair do banho e se arrumar para a próxima entrevista de emprego.

E agora é o futuro. Dinheiro e futuro. E relacionamentos sérios que acabam paradoxalmente pela falta de seriedade.
Pra mim a vida é um varal. Os problemas-lençóis-brancos-limpos esperam o calor ambiente da paciência/experiência para secá-los enquanto, molhados, apenas fazem peso sobre nós. Uma hora ou outra a corda perde o jogo contra a gravidade. Basta saber quantos estão dispostos a fazer a força necessária para segurar o lado que arrebentou.