sábado, 13 de fevereiro de 2010

Prazeres cotidianos subestimados

Sentar em uma poltrona confortável, na sala de uma casa completamente vazia, em um dia relativamente frio (não aquele que te obriga a tirar do armário a sua mais grossa jaqueta, mas o suficiente para que alguém te lembre de levar um blusão por precaução caso saia para passear ao ar livre), e tomar uma consideravelmente generosa caneca de cappuccino quente ao som de um melancólico gemido de sax executando alguma obra clássica do jazz.

Sair para uma caminhada no início do dia, quando o Sol ainda não disfarça a timidez no horizonte e uma garoa insignificante apenas deixa o ar úmido, com as mãos no bolso da jaqueta, fones de ouvido reproduzindo sua música favorita, com passos curtos sem direção ou pressa e respirar significa gelar o peito e soltar fumaça pela boca.

Em casa, de pijama, e você sai na varanda do apartamento, décimo segundo andar, com braços cruzados se apoia na grade, uma perna sustentando o corpo e a outra tocando o chão apenas pelas unhas do pé, observando os pedestres, carros, casas, vizinhos que começam o dia, outros terminando, sons, luzes e a sensação de que, de fato, cada dia é diferente do outro.

Viagem longa em um trem velho e vazio, o último antes de fecharem as estações, as pernas esticadas nos bancos, um cotovelo encostado na janela para a mão fechada segurar a cabeça e um livro que lhe prende tanto a atenção que aquelas duas horas de trajeto passam em quinze minutos imaginários.

Abraçar alguém, sentido que a temperatura do outro corpo difere da sua, o cheiro do shampoo nos cabelos que agora se esfregam no seu nariz, ambos apertando tanto os braços que caso seus corpos fossem menos consistentes, fundí-los-iam.

Olhar para um bebê sentado em sua cadeira e, assim que os seus olhos encontram o dele, ele sorri e, não importando a distância, você ouve aquela profunda risada sincera e seu minúsculo corpinho se agitando de alegria e - vá saber porquê - você também acha graça.

Passar o dia andando, correndo, pulando, forçando os músculos até o limite da dor e cansaço e, chegando em casa, simplesmente deitar na cama, deixando o corpo se acostumar com a posição, sentindo o relaxamento muscular, a falta de exigência física, a energia carregada pouco a pouco em seu organismo.

Mesa de bar com amigos, verão, bebida gelada, petiscos levemente apimentados e as histórias mais engraçadas que voce já ouviu.

Starbucks.

Cinema.

Ir a um parque bem cuidado em um dia que o céu está completamente azul, roupas refrescantes, deitar na grama verde e conversar. E conversar. E repetir o verbo até a necessidade de uma água de côco ou um picolé de frutas chegar. E deitar novamente. E talvez brincar de comparar formas de nuvens com animais, objetos ou coisa parecida.

Encontrar fotos, cartas, bilhetes, lembranças de alguma época passada que você pensou ter perdido.

Ler ou ouvir uma frase muito boa, daquelas que você usa sempre que puder pelo resto de sua vida.

Achar dinheiro no chão ou no bolso de alguma calça.

Tomar um copo grande inteiro de milk-shake de ovomaltine do Bob's e, ao terminar, ficar mordendo e brincando com o canudo.

Receber mensagens de celular de uma pessoa que você gosta.

Escrever textos para se distrair.