terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Para pés delicados!

A população da cidade de São Paulo pode ficar mais tranquila agora: os delicados e frágeis pés do topo da elite paulistana estão agora sob excelentes cuidados profissionais, tudo grátis, com organização da prefeitura de São Paulo e então, pela lógica matemática das coisas, pago diretamente com nosso querido dinheiro. Então não fique desanimado: a próxima vez que seu chefe pisar em você, ao menos haverá a certeza de que o investimento retornou a você! É o povo zelando pela ótima condição física daqueles que nem o sobrenome da empregada doméstica, que todo dia viaja até seus sumptuosos lares para deixar o local extremamente higienizado, organizado e ainda por cima aquecer o seu alimento diário, sabem!

Digo isto pois acordei hoje de meus belos sonhos desconexos e me deparei com uma reportagem do SPTV sobre aulas gratuitas de spinning, promovidas pelo evento Bike Tour, no município de São Paulo. Um detalhe curioso é o local escolhido para tanto: o shopping Morumbi, na zona sul da capital, onde, como todos sabemos, a população realmente é muito carente e não têm condições de bancar uma academia, equipamentos de ginástica e professores particular.

Indo no site oficial do evento, é possível ver os lindos logotipos da prefeitura e do governo de São Paulo homenageando tal mobilização e se dispondo, inclusive, a organizar as ações do que lá estão nomeados como "parceiros".

É comovente a preocupação com o bem-estar da população.
Bairros como o Morumbi, Brooklin e laia adjacente precisam mesmo deste tipo de gasto.
A alimentação, hospedagem, educação e auxílio aos moradores de áreas devastadas pelas recentes chuvas podem esperar. Não é tão importante quanto a malhação de algumas esposas de ricos empresários que só pedem pela queima daquelas calorias adquiridas por aquele gigantesco pedaço de torta de morango com chantily comprada na doceria enquanto esperava que o lindo cachorrinho da família terminasse o seu banho semanal no Pet Shop da região.

Não entendo como alguns podem criticar estas atividades. Eu, particularmente, quase chorei quando uma pedagoga sorriu, toda realizada em frente as câmeras, e disse estar "sentindo que fez o dever de casa".
E vocês ainda querem levantar monumentos parabenizando trabalhos precocemente interrompidos como os de Zilda Arns? Martirizar charlatões como aquele filho hippie de marceneiro que vagabundeava com mais doze amigos e foi muito bem preso, julgado e condenado à cruz? Que indecêndia! Sejamos solidários e tenhamos bom senso: que prioridade seria maior que a satisfação egoísta de uma endinheirada às custas de indivíduos como nós, pés-rapados?

Sugiro que, ao menos dessa vez, façamos um pequeno sacrifício. Dessa maneira, ao levarmos um chute no traseiro após rastejarmos por quadras e quadras em busca de um emprego qualquer, mesmo que humilde, mas que nos sirva para ao menos tentar pagar as dívidas e manter uma certa áurea de dignidade, saberemos, assim, que foi feito pelas pernas exercitadas de um glutão saudável.