sábado, 9 de janeiro de 2010

Sábado

Você acorda. Meio tonto, todo confuso, sem saber exatamente quando, como e porque. Imagina apenas ser relativamente tarde, pois o intruso Sol consegue de algum modo iluminar consideravelmente o seu quarto, apesar de a janela estar fechada. Já é possível distinguir móveis, objetos e espaços vazios.
Levantando, procura o relógio mais próximo pra saber a hora exata.
Pega o celular sem nenhuma ligação ou mensagem nova e se espanta ao descobrir que já é uma hora da tarde.
Sai do seu quarto atordoado pela abundância de luz que visita a sua sala, com a delicada e inconveniente permissão da janela de cortinas abertas.
No banheiro, lava o rosto para despertar verdadeiramente para o seu dia.
É sábado.

Já é de tarde. Sua mãe está toda cansada voltando do trabalho e abre a porta de casa para poder descansar no exato momento em que você está tomando o seu café-da-manhã, se é que assim pode ser chamado.
O clima está bárbaro. As poucas nuvens no céu dão um toque de casualidade ao horizonte, como se um artista resolvesse rabiscar em cima da própria obra para ela não parecer tão perfeita.
Mas a vontade de realmente fazer algo que exija o mínimo esforço de pegar o elevador e colocar os pés na calçada é quase inexistente. Falta objetivo. Falta um motivo para valer qualquer dedicação. Resolve que seu dia será light. Que não será um dia nulo mas que também será desnecessário fazer uma placa em sua homenagem.

Liga a televisão e consta o que já desconfiava: não há muitos programas interessantes no horário. Dois episódios de Friends assistidos e só. Ainda passei por um filme que já estava na metade (I Am Sam). Até gostaria de assistí-lo, mas se visse o final, me desanimaria alugá-lo para ver desde o começo. O que me valeu foi a lembrança de uma pessoa. A que me indicou o filme. Que me disse que é lindo e chorou. Aquela que ultimamente invade meus pensamentos em cada pequena ação cotidiana, me faz refletir sobre minhas ações e indagar sobre minha própria ignorância e covardia perante a vida. Enfim ... Ainda existem os livros.

Sentando no sofá, continua a leitura de Tristessa, um pequeno porém interessante livro de Jack Kerouac, comprado com R$ 8,00 em uma livraria Nobel no dia anterior, quando fiquei preso em um shopping center esperando a chuva cessar para poder ir pra casa.
Algumas páginas sobre um americano apaixonado por uma prostituta mexicana viciada em morfina, inspirações para músicas e aprendizado descritivo para futuros textos e estou pronto pro almoço.

Macarrão, sardinha, guaraná e uma carambola depois e me sento em frente ao computador. Twitter, orkut, alguns blogs, conversas no MSN, todo o disco do Little Joy pela milésima vez. Se isso não é vida boa, eu não sei o que é.

O dia não poderia ser completo sem um banho decente para anular o calor ambiente que, selvagem como raras vezes, me incomodava.

Para variar um pouquinho, sento novamente no sofá e coloco para rodar o DVD do show dos Los Hermanos na Fundição. Um excelente show. O último deles. Um memorável registro de uma das melhores bandas nacionais de todos os tempos. E a frase "e até quem me vê lendo jornal na fila do pão sabe que eu te encontrei" cantanda delicadamente por Rodrigo Amarante me remete ao passado, quando era eu quem recitava a mesma. Chega de DVD. Hora de computador novamente.

E aqui estou. Já ouvi Joy Division. Já ouvi Moldy Peaches. Já ouvi novamente Little Joy.
Não há recados no orkut, as janelas do meu MSN mal piscam.
Resolvo então escrever um post à margem da total futilidade para me distrair. Não há muito pra contar. Até existem coisas para analisar. Notícias, fatos, fotos. Mas qual o ponto também? Poucos lêem isto aqui de qualquer modo.
É mais um exercício de linguagem, um treino de digitação, uma atividade de aquecimento para a minha retórica do que um desabafo virtual ou documento de interesse público cheio de conteúdo e importância.
Outro dia eu escrevo sobre coisas mais importantes.
Hoje eu só queria simplesmente escrever mesmo.
Era isso ou sobre alguma etiqueta mal-colocada de um suéter verde musgo usado jogado no balcão de promoção em um pequeno e desconhecido brechó no centro de uma cidade interiorana. Optei pelo mais fácil.